segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dom Beni fala ao RCC Brasil sobre a apreensão dos folhetos "Apelo a todos os brasileiros e brasileiras" e diz que documento oficial da Igreja não cita boatos mas sim fatos concretos:

Dom Beni dos Santos, da diocese de Lorena e um dos bispos que assinaram o “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras” - que teve sua impressão suspensa pelo TSE - fala-nos em entrevista sobre este assunto. D. Beni explica que o documento continua válido e declara: “Apelo não cita boatos, cita fatos concretos”. Dom Beni também destaca que “orientar os fiéis com relação a decisões no campo da política é missão da Igreja”. Dever pastoral que foi reafirmado por Bento XVI em discurso aos bispos do Nordeste.


PORTAL RCCBRASIL: Como se deu o contexto da reunião na qual surgiu o “Apelo”? Como surgiu o assunto e a ideia de fazer este pedido aos eleitores?

DOM BENEDITO BENI DOS SANTOS: O “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras” foi redigido pela Comissão de Defesa da Vida do Regional Sul-1 que congrega 42 dioceses do estado de São Paulo. O bispo que representa o episcopado junto a essa Comissão é o bispo de Assis, Dom José Benedito Simão. O Apelo foi redigido por essa Comissão, que procura mobilizar toda a população em defesa da vida. E se nós queremos defender a vida como pede a Igreja, desde o seu início, na fecundação, até o seu término natural, nós temos que combater a legalização do aborto em nossa pátria, temos que combater a descriminalização do aborto. Então o voto é um instrumento a mais que nós usamos para isso. Essa foi a intenção da Comissão pela Defesa da Vida, que redigiu o “Apelo”. Nesse “Apelo”, ela registra fatos que comprometem tanto o governo quanto o Partido dos Trabalhadores (PT). O PT tem em seu programa de partido a intenção de legalizar o aborto e também de realizar a descriminalização do aborto. O aborto, que é um crime terrível, que, na realidade, é um assassinato de seres inocentes, passaria a não ser mais crime. O Apelo cita fatos concretos que estão no programa do PT e também cita fatos concretos a respeito da legalização e descriminalização do aborto que se encontram no terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) do governo. Esse programa foi assinado pelo presidente da República, foi assinado pela ministra-chefe da Casa Civil da época, a candidata a presidência da República, Dilma Rousseff.

Então, o “Apelo” não cita boatos, cita fatos concretos, que constam no programa do Partido e no PNDH assinado pelo atual governo. E depois faz um apelo que inclui todos os partidos que são favoráveis à descriminalização do aborto e a sua legalização, pedindo, então, que só votem em candidatos que não aceitam a descriminalização e a legalização do aborto.

O Apelo não está tirando a liberdade de ninguém, está simplesmente exercendo a cidadania democrática. Cada pessoa, cada organização, tem o direito de publicar as suas convicções, tem o direito de fazer apelos para que as pessoas só votem em candidatos que defendam a vida desde o seu início, na fecundação, até o seu término final.

É esse em geral o conteúdo deste “Apelo”. Acontece que a Comissão Permanente do Regional Sul-1 da CNBB, que engloba as 42 dioceses, numa de suas reuniões ordinárias, pediu que o Apelo fosse difundido amplamente em nossa pátria, com a finalidade de orientar, sobretudo, os cristãos, mas também todas as pessoas de reta consciência e de boa vontade a respeito das próximas eleições. Esse pedido dos bispos foi assinado pela presidência do mesmo Regional, exercida por Dom Nelson Westrupp, bispo de Santo André; por mim, bispo de Lorena e pelo secretário, Dom Airton José dos Santos, bispo de Mogi das Cruzes. Então, trata-se verdadeiramente de um documento oficial da Igreja em nosso estado, procurando, como entender dos bispos, orientar e iluminar a consciência dos fiéis para que façam do voto um instrumento para defesa da vida.

PORTAL: Depois da preparação da carta, como se deu a divulgação e distribuição?

DOM BENI: Ainda está ocorrendo a distribuição. Após a preparação, o próprio Regional Sul-1 da CNBB patrocinou a impressão de milhares de exemplares. Não recordo o número exato, mas mais de 100 mil. Então depois a Comissão de Defesa da Vida do Regional Sul-1, se encarregou de conseguir donativos para continuar a impressão e distribuição do mesmo apelo. É o que nós estamos procurando fazer até o dia de hoje.

PORTAL: Como foi sua reação quando o material foi apreendido por decisão da Justiça Eleitoral?

DOM BENI: Militantes do PT denunciaram à Justiça Eleitoral a existência da impressão do Apelo numa gráfica de São Paulo. A denúncia se referiu a um material, vamos dizer, ilegal. Seria um panfleto de calúnias contra a candidata do PT e devido a essa denúncia a Justiça apreendeu todo o material impresso para averiguação, para mostrar de fato se o conteúdo do Apelo correspondia à natureza da denúncia que foi feita, de panfleto ilegal. Trata-se, porém, de um documento oficial da Igreja, assinado pela presidência do Regional Sul-1 em nome da Comissão Permanente do Regional, dos bispos do estado de São Paulo, são 42 bispos. Acontece que até agora não houve o julgamento sobre a natureza desse folheto. Por isso mesmo, a Cúria da Diocese de Guarulhos entrou com pedido dos advogados para que o mencionado apelo seja devolvido, porque se trata de um documento oficial da Igreja, que cita não boatos, não mentiras, mas fatos que constam no programa do PT e também no Plano de Nacional de Direitos Humanos assinados pelo atual governo.

PORTAL: Como está sendo a situação dos panfletos hoje? É possível distribuí-los?

DOM BENI: Bem, o pedido dos bispos da Comissão Permanente do Regional continua em pé, que este folheto seja amplamente divulgado, sobretudo, em nossas paróquias, comunidades e movimentos. Acontece que, devido à apreensão, nós não temos mais exemplares disponíveis desse importante documento.

PORTAL: É comum escutarmos que a Igreja deve preocupar-se apenas a assuntos diretamente ligados a fé. O que o senhor tem a dizer sobre esta crítica, que muitas vezes recebemos, de que a Igreja não deve opinar sobre política?

DOM BENI: Orientar os fiéis com relação a decisões no campo da política é missão da Igreja. O Direito Canônico afirma que o bispo tem a obrigação grave de orientar os fiéis de sua Diocese em matéria de fé e costumes, fé e moral, fé e ética, e, por outro lado, nós sabemos que a política está também ligada à fé. A fé é globalizante, ela envolve toda a nossa vida e todas as nossas experiências. Não existe uma realidade humana que não tenha relação com a fé. A economia, o trabalho, a política, a sexualidade, todos têm relação com a fé. Quando nós deixamos um aspecto da nossa vida, seja a vida pessoal, privada, seja a vida em sociedade, fora do âmbito da fé, nós estamos mutilando a fé. Então votar é uma expressão não só da nossa cidadania, tem que ser expressão da nossa fé. O voto tem que estar em coerência com a nossa fé, tem que estar em coerência com os mandamentos de Deus, em coerência com os ensinamentos do Evangelho. Então pedir às pessoas que não votem em candidatos que sejam a favor da legalização e da descriminalização do aborto é um pedido que envolve a coerência da nossa fé. Ainda mais que envolve o amor, amar ao próximo como a si mesmo. O próximo não são só indivíduos, o povo, também é o nosso próximo coletivo. Então usar do voto como instrumento para defender a vida, desde o início, na fecundação, até o seu término natural é uma expressão do nosso amor ao próximo, no sentido mais pleno e amplo da palavra.

Fonte: RCC Brasil (http://www.rccbrasil.org.br/noticia.php?noticia=6397)

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